top of page
  • Foto do escritoraguiaranacarol

"Escrevendo uma nova história em um papel amassado"

Atualizado: 19 de nov. de 2023




Essa foi uma das metáforas usadas pelos profissionais da sustentabilidade que entrevistei para minha pesquisa de doutorado. Dentre muitas questões, eu pedia para cada profissional completar a frase "trabalhar com sustentabilidade é como....". De tão precisa que foi a metáfora desse entrevistado, ela ganhou o título da tese (em inglês "Writing a New Story on a Crumpled Paper"). 


O que ela representa é um fato que não podemos ignorar: o novo sempre vem acompanhado do velho, o futuro carrega em si o passado. E é doce ilusão achar que pode ser diferente. Isso significa que toda pressão por transformação encontra pressão contrária pela manutenção de algo (o famoso status quo). Fácil observar isso de um ponto de vista coletivo: pressões de interesses setorias, econômicos e políticos de um lado, resistências e pressões por mudanças de outro. 


Mas e quando voltamos as lentes disso para o ponto de vista pessoal ou individual? Como se dá qualquer processo de mudança que temos ou escolhemos passar? Basta ter a intenção que acontece? Ou há, dentro nós, forças que parecem resistir à mudança? Entendo que compreender tal dinâmica é essencial para destravar o potencial para as transformações que buscamos - individual e coletivamente. 


O livro Imunidade à Mudança me deu uma luz sobre tudo isso. Os pesquisadores de Harvard Robert Kegan e Lisa Lahey, nos mostram que por trás de todo compromisso de mudança, há um compromisso concorrente oculto para qual colocamos muita energia. Exemplo: um gestor sabe que precisa estar mais aberto a novas ideias e flexível em relação a seus pontos de vista. Quando reflete sobre quais comportamentos o levam a este padrão, percebe que gasta mais tempo argumentando que perguntando ou ouvindo, ou é sempre muito rápido em dar uma opinião. Qual o compromisso oculto nesse caso? Pode ser uma profunda necessidade de autonomia e autoria. E geralmente, tais necessidades vêm carregadas de um campo emocional relevante, ou seja, o que quer se manter costuma ter bastante força.... 


Assim, sempre que queremos mudar algo, precisamos compreender o que quer se manter e por quê. Isso não significa desistir ("não vale à pena tentar mudar"), nem se iludir ("basta querer") - dois padrões típicos: a paralisia ou o senso de super herói. Significa lidar com o que é real em toda sua complexidade. Literalmente escrever uma nova história em um papel usado. Não ir rápido demais no risco de rasgar o papel. Achar as brechas em branco e testar o novo. Aprender. Reconhecer o reforço positivo de cada passo dado em direção à mudança desejada. Perceber também se há algum aspecto positivo do que quer se manter. Enfim, ter coragem e criatividade para compor a história, consciente disso tudo.


Como diz a poesia de Antonio Machado, "Caminhante não há caminho, se faz o caminho ao caminhar... golpe a golpe, verso a verso...."


O que você está tentando mudar atualmente? E o que será que está querendo se manter...?

9 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page